PMs agridem dono de padaria em suposta repressão a disputa de imóvel no Jardim das Margaridas
O comerciante José Antônio, de 49 anos, havia acabado de atender mais um cliente na manhã deste sábado (14) em sua padaria no bairro do Jardim das Margaridas, em Salvador, quando dois homens entraram no estabelecimento para um “acerto de contas” com ele. A princípio, José não entendeu do que se tratava, mas tudo ficou claro quando eles se apresentaram como policiais militares e o ordenaram que deixasse o imóvel –pivô de uma briga judicial.
O episódio foi gravado por uma câmera de segurança instalada no interior da padaria. Nas imagens é possível ver que os dois homens não apresentam nenhum distintivo que os identificam como policiais militares. Em um determinado momento, um deles, bastante alterado, bate no comerciante, saca uma arma e aponta na direção da vítima.
Em conversa com o BNews, José afirma que a ação tem relação com a questão judicial que envolve o seu sobrinho e o homem que se diz dono do terreno onde está localizada a padaria.
“Em 2015, havia um imóvel pequeno próximo a padaria que estava à venda. O meu sobrinho já tinha um comércio aqui e decidiu expandir o negócio comprando o ponto, mas o dono não estava com a documentação em dia para fechar o negócio. O meu sobrinho pagava 4 mil reais de aluguel no imóvel que fica em uma área de invasão. Como é uma área invadida, o meu sobrinho resolveu construir outros imóveis, além da padaria, que foi passada para mim. A área ficou valorizada, e o proprietário quis desfazer o negócio e ainda tomar todos os outros pontos sem ter construído nada”, conta.
Acerto de contas
O homem que se apresenta como dono do terreno, segundo José, esteve no local há 15 dias e fechou um dos portões que dá acesso ao banheiro dos funcionários da padaria. Revoltado, o comerciante afirmou que tentou conversar após quebrar o cadeado.
“Eu chamei ele e disse para não colocar o cadeado porque a Justiça ainda não tinha decidido nada, já que questões como essas são lentas, mas que se um oficial chegasse com uma liminar dizendo que eu teria que sair, eu sairia. Apenas coloquei a mão no ombro dele. Ele saiu e disse que tomaria providências”, completa.
Para reportagem, José também contou que teme novas agressões. “Eu aqui trabalhando assustado a qualquer momento e um deles pode retornar e me matar. Eu trabalho há cinco anos aqui e nunca tive problema com ninguém”, desabafa.
O caso foi encaminhado no mesmo dia à Corregedoria da Polícia Militar. Um dos policiais que aparece nas imagens foi identificado pela vítima. A reportagem entrou em contato com ele, mas o PM não quis comentar o assunto. Já o homem que se diz dono do terreno não foi localizado.
Ao nossa reportagem procurou a PM para confirmar a denúncia e os procedimentos a serem tomados diante do episódio, mas, até a publicação desta reportagem, a assessoria de comunicação não havia respondido a solicitação.
Já a Secretaria da Segurança Pública do Estado da Bahia (SSP-BA) disse, por meio de nota, que o secretário Ricardo Mandarino determinou apuração rigorosa do fato. “A pasta informa ainda que, existindo a participação de público interno, será aberto Processo Administrativo Disciplinar (PAD)”, diz trecho do comunicado.