‘Espero até 16 horas para baixar uma aula’: a desigualdade nas aulas onlines da Ufba
Pelos próprios cálculos, Anete Medeiros, 22 anos, já esperou 16 horas para o conteúdo de uma aula ser baixado no computador. Às vezes, ela, que não tem internet em casa, anda 300 metros até a delegacia vizinha, de onde vem o sinal da rede. Fica lá até acessar os conteúdos. O semestre suplementar da Universidade Federal da Bahia (Ufba) escancarou as desigualdades dentro da instituição e alguns alunos começaram a desistir de disciplinas.
Isso se o notebook estiver próximo à cabeceira da cama, em cima de uma almofada, parado. Há duas semanas, ela voltou para Macaúbas, no Oeste baiano, para a casa da mãe, por dificuldades financeiras. Todos os 417 municípios baianos têm cobertura da rede de internet de pelo menos uma operadora, afirma a Associação de Operadores de Internet do estado.
Anete não se inscreveu em nenhum dos dois editais da Ufba que ofereceram auxílio para compra de computador, tablet ou smartphone, ou para pagar a internet porque morava em Salvador, em uma residência universitária, onde tinha condições de assistir às aulas. Mas, no início do mês, ela arrumou as malas e voltou ao interior temporariamente.
Segundo a Ufba, dos 1.967 inscritos para receber auxílio de R$ 800 destinado a compra de equipamentos eletrônicos, 1.300 foram convocados. Já dos 1.057 inscritos para receber apoio para acesso à internet, todos estavam aptos.
O semestre suplementar é opcional para os estudantes – exceto os bolsistas, que precisam estar matriculados para não perder as bolsas – e foi aprovado em julho pelo Conselho Universitário. O trancamento de disciplinas não estará disponível para evitar prejuízo ao rendimento dos alunos e quem abandonar as aulas não será penalizado.
O próximo período, que é o de 2020.1, será mantido e quem não se matriculou neste semestre não terá prejuízos, na teoria. Quem se inscreveu – quase 26 mil estudantes, calcula a Ufba – diz que o fez, na maioria das vezes, para não atrasar a formação.
O Ministério da Educação (MEC) respondeu ao CORREIO que as 69 universidades federais brasileiras podem decidir sobre os próprios calendários acadêmicos e que disponibiliza 400 mil pacotes de banda larga para serem usados nas atividades didáticas por estudantes da rede pública. No entanto, não comentou sobre as desigualdade nas salas e o impacto disso.
Confira dicas de como ter um melhor aproveitamento nas aulas remotas:
• Estudar a ementa do curso, procurar a literatura acadêmica e recorrer a esses materiais para não ter aprendizagem muito comprometida e acompanhar os conteúdos que serão trabalhados nas aulas online.
• Quando não conseguir acesso a aula online, tentar buscar o mesmo conteúdo – o mais similar possível – em outras aulas online que estão disponíveis na internet.
• Buscar fazer um intercâmbio com outros estudantes da turma, marcando reuniões virtuais e encontros para que haja compartilhamento de experiências e trocas que podem ajudar na aprendizagem.
• Criar, na medida do possível, um horário fixo de estudos e tentar seguir essa rotina. É importante saber que, mesmo em casa, aquele será o momento de estudar.
• Conversar com a família para que haja um respeito ao espaço um do outro. Pedir que não seja interrompido pelos demais e tentar acompanhar as aulas com fone de ouvido.
Fonte: Andrea Ramal, doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e especialista em Educação Online.
Com informações de Correio 24 horas