Estátua de Mãe Stella é reinaugurada após incêndio em Salvador
O olhar sereno de Mãe Stella de Oxóssi em seu trono voltou a repousar sobre a Avenida Luís Vianna (Paralela) e sobre a via que leva o nome da religiosa. A escultura, incendiada em dezembro de 2022, foi restaurada e recolocada no lugar, na manhã desta quinta-feira (10). A obra é uma das últimas peças produzidas pelo artista plástico Tatti Moreno e faz uma homenagem a uma das ialorixás mais importantes do país.
Em 4 de dezembro do ano passado, uma madrugada de domingo, motoristas que transitavam pela avenida, nas proximidades do bairro de Stella Maris, viram a estátua em chamas e avisaram ao Corpo de Bombeiros e à polícia que abriu um inquérito para apurar o caso. A principal suspeita é de intolerância religiosa. Em 2019, cinco meses após a inauguração, a obra foi pinchada e teve a placa arrancada.
Nesta quinta-feira (10), Mãe Ana de Xangô, ialorixá do Ilê Axé Opô Afonjá, casa que foi comandada por Mãe Stella durante 42 anos, ressaltou a importância da reinauguração da estátua . “É um momento magnífico, importante para a comunidade de axé, para o povo de santo, inclusive no Ilê Axé Opô Afonjá, onde comemoramos a ancestralidade de Mãe Stella. Eu fui iniciada por ela, que é uma referência para o mundo, e fico muito emocionada com esse momento”, pontuou.
Durante a reinauguração, o padre Lázaro Muniz, representante do Conselho Inter-religioso, destacou a importância da luta contra a intolerância religiosa. “Não podemos mais admitir que as religiões sejam vilipendiadas, maltratadas e ofendidas por causa de ideologias religiosas. A religião de forma nenhuma deve ser um instrumento de opressão, de maldição ou, pior ainda, de escravização. Precisamos respeitar todas as formas religiosas”, afirmou.
Quatro dias após o atentado, lideres religioso do candomblé, espíritas e católicos realizaram um ato ecumênico em solidariedade ao povo de santo e pedindo pelo fim dos ataques as religiões. Na época, a cantora e atual ministra da Cultura, Margareth Menezes, também participou do evento. O prefeito Bruno Reis (União Brasil) disse que o poder público estará focado em combater qualquer discriminação religiosa.
“Abril de 2019 estávamos aqui prestando essa homenagem. Infelizmente, em dezembro de 22, tivemos um ato de vandalismo, numa cidade que não tolera qualquer tipo de discriminação. Em Salvador não haverá jamais espaço para qualquer tipo de disputa, de guerra entre as religiões. Nós vamos combater qualquer tipo de manifestação nesse sentido. Hoje estamos restabelecendo a história, a homenagem. Graças ao saudoso Tatti Moreno e a seus filhos podemos ter a estátua de Mãe Stella de volta”, disse.
Quando morreu, em 27 de dezembro de 2018, Mãe Stella era ialorixá do terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, no bairro de São Gonçalo do Retiro, em Salvador, desde 1976. Foram 42 anos à frente de um dos terreiros mais tradicionais do Brasil. Ela estava internada há 13 dias em Santo Amaro, no Recôncavo, e morreu por volta das 16h.
Segundo o Hospital Incar, a morte foi causada por sepse de foco urinário e por insuficiência renal crônica associada a hipertensão arterial sistêmica. Enfermeira de formação e também escritora, Mãe Stella publicou o primeiro livro em 1988. Chamado E daí Aconteceu o Encanto, a obra foi escrita em parceria com Cléo Martins e apresenta histórias sobre as origens do Opô Afonjá e das primeiras ialorixás que comandaram a casa.
Créditos: Correio da Bahia