Moradores dizem que PMs esconderam cápsulas após morte de adolescente na Santa Mônica
Wesley estava indo fazer a sobrancelha de uma cliente
Filho único de pais trabalhadores, um deles funcionário público municipal, Wesley Jesus de Oliveira tinha apenas 17 anos, mas já sustentava suas despesas pessoas. Barbeiro formado, o adolescente fazia sucesso atendendo clientes em domicílio. Nesta terça (6), como sempre, saiu de casa com sua inseparável maleta com materiais de trabalho para fazer a sobrancelha de uma cliente no mesmo bairro onde morava, em Santa Mônica.
Diferente do que acontecia todos os dias, o serviço não foi feito e ele nunca mais voltou para casa: o jovem foi morto com um tiro nas costas durante uma ação da Polícia Militar. A família alega que, após o assassinato, policiais chegaram a catar as cápsulas no chão para esconder o que aconteceu.
Segundo os pais de Wesley, o adolescente saiu de casa, na Segunda Travessa Otávio Mangabeira, por volta das 15h. Com ele, estavam os outros dois adolescentes. No trajeto à casa da cliente, o trio parou para brincar de elástico e pouco depois foram surpreendidos pelos policiais, que já chegaram atirando na Rua Paraguai.
Vera Lúcia estava amparada pelo marido, o agente de endemias Sérgio de Sena Oliveira, 40, que estava inconformado com a morte precoce do filho. “Somos uma família evangélica. Só Deus sabe o tamanho de nossa dor, que não passa. Só Ele para nos fortalecer. Mas não pudemos nos calar porque infelizmente meu filho não foi o primeiro e não será a último inocente que eles executam”, declarou Sérgio.
Além de Wesley, outras duas pessoas foram baleadas e ficaram feridas na ação. O adolescente Erick dos Santos, 16, foi atingido no braço e está internado no Hospital Roberto Santos, no Cabula. Já outra garota de prenome Tatiele, 16, foi atingida de raspão.
Revoltados com a violência vivida no bairro, moradores da Santa Mônica fizeram um protesto na noite do mesmo dia da morte, queimaram pneus e bloquearam ruas pedindo a prisão dos culpados.
O enterro do barbeiro será às 14h desta quarta, no cemitério Quinta dos Lázaros.
Violência no bairro
A vizinha de Wesley, que pediu anonimato, disse que os policiais militares têm o hábito de chegar na comunidade atirando. “É sempre assim, nunca entram da paz. É dando tiro para todos os lados, xingando as pessoas, dando tapa, colocando arma nas cabeças, tomando dinheiro de trabalhadores. A criminalidade existe em todo o lugar, mas eles chegam assim na Barra, na Pituba, no Caminho das Árvores?”, disse.
A mulher pontuou ainda que alguns PMs têm o costume de praticar execuções e forjar uma situação de confronto. “Quantas vezes nós testemunhamos em nossas casas eles matando um jovem, quando na verdade deveria prendê-lo? Quantas vezes vimos pessoas mortas e eles atirando para cima para dizer que foi confronto? Basta olhar para as casas aqui, todas com marcas de tiros na parte de cima, fruto dos disparos realizados para o alto”, disse.
Versão da polícia
Ao contrário da família, a Polícia Militar afirma que uma equipe do Esquadrão Águia fazia patrulhamento de moto quando chegou ao local e foi recebida a tiros por homens armados.
Ainda de acordo com a PM, o caso foi registrado no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e também foi instaurado um inquérito na Corregedoria para apurar a situação.
Reprodução: Correio 24 horas